quinta-feira, 23 de abril de 2009

BALADA DA DESPEDIDA DO V ANO MÉDICO DE 1937-1938


Música: António da Silva Fonseca
Letra: António da Silva Fonseca
Origem: Coimbra
Função inicial: teatro amador, récita de despedida
Data: 1938
*
Adeus Coimbra, terra d'amor,
Que tens formado tanto Doutor;
Adeus Mondego das serenatas,
Adeus tricanas, lindas, gaiatas.
*
Das nossas pastas as fitas caiem
Como saudades que não se esvaem;
Ao agitá-las, como comoção,
Soluça a alma e o coração.
*
(Coro)
Este punhado de gente moça já de partida,
Vendo bem perto a hora triste da despedida,
Vem oferecer-te como penhor de gratidão,
As suas capas, as suas fitas, o coração.
*
Quando voltarmos, encanecidos,
Já alquebrados, mas sempre unidos;
Relembraremos com saudade,
A boa gente desta cidade.
*
E até lá pela vida fora,
Rainha Santa, Santa Senhora
Velai por nós, dai-nos alento
P'ra suportamos o sofrimento.
*
(Coro)
Este punhado de gente moça já de partida
Vendo, etc., etc..
*
Informação complementar:
A Récita de Despedida do Curso do V Ano Médico de 1937-1938 foi levada à cena em grande gala, na noite de 29 de Março de 1938, no Teatro Avenida, em Coimbra, e repetida na noite de 4 de Abril seguinte.A peça da récita, escrita em prosa e verso, com três actos e treze quadros, intitulava-se «Gotas Amargas... Quantum Satis...» foi apresentada como obra colectiva do curso. A encenação esteve a cargo de Mário Temido com a colaboração do Dr. Octaviano Carmo e Sá.
Nesta gala de despedida cantou-se também o Fado de Despedida do V Ano Médico de 1937-1938 (A minha capa velhinha), de João Gonçalves Jardim.
A Balada de Despedida foi cantada em palco pelo quintanista Bernardino António de Carvalho Pargana. A partitura foi impressa na Lito Coimbra. Não consta que este tema tenha conseguido popularizar-se, pois nunca a ouvimos na tradição oral das décadas ulteriores e não se lhe conhece gravação fonográfica alguma.
A peça foi composta em compasso 6/8 e desenvolve na tonalidade de lá menor, passando por dó maior.
A letra é bastante banal, num registo masculino que repete os clichés chorosos herdados do decadentismo fini-oitocentista e receitua um rol de lugares comuns apropriados pela propaganda do Estado Novo ao longo da décadade 1930. O 4º verso da 1ª quadra vai mesmo ao ponto de reproduzir a linguagem versática em voga nas canções de maior sucesso no teatro de revista de Lisboa.
Vale sempre a pena redescobrir estas composições epocalmente marcadas e tombadas no esquecimento. Através delas é bem possível reconstituir pedaços do imaginário de uma socidade tradicional académica marcada pela agonia da Aufklärung burguesa e pelos mitemas estadonovistas, num género artístico onde o discurso sapiental raramente oculta o muito que está por fazer.
*
Transcrição: Octávio Sérgio (2009)
Texto: José Anjos de Carvalho e António M. Nunes
Espólio de José Mesquita

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